“Somos hoje uma indústria sem chaminés, embora se fume muitos charutos”. (Jairo Ferreira). Construir um filme que se pretende contestador e autossuficiente é assumir para si o conservadorismo do mundo. No regime de imagens e política contemporânea, a lógica é …
Categoria: O que vemos, o que nos olha

Caminhar, persistir, acreditar: “A canção do asfalto”, “Restos”, “Estado itinerante” e a opressão do urbano
Estar no espaço urbano é estar confinado – e estar em trânsito. Em A canção do asfalto (2016), de Pedro Giongo, Restos (2016), de Renato Gaiarsa e Estado itinerante (2016), de Ana Carolina Soares, o mundo das cidades oprime, ao …

“Um filme de cinema” e a realidade fabulada
O cinema surge como escrita da luz. Nasce pendular entre dois movimentos: o avançar das descobertas óticas e a vontade de fazer ver a partir de invenções. Do gesto dos irmãos Lumière em registrar planos fixos e, por meio disso, …

Cidade das estrelas… brancas: sobre as questões raciais em “La La Land”
Em The Colour of Entertainment (A Cor do Entretenimento), Richard Dyer coloca em questão o racismo na chamada “era de ouro” dos musicais hollywoodianos. Se pensarmos que os personagens de filmes deste gênero normalmente são artistas do entretenimento (atores, cantores, …

A delicadeza da terra, a descoberta do mar: “Homem-peixe” e a invenção do mundo
“E o cinema, vejo muito bem porque o adotei: para que ele me adotasse de volta. Para que ele me ensinasse a perceber, incansavelmente pelo olhar, a que distância de mim começa o outro”. Serge Daney “Perto de muita água, …

O risco do voyeur em “Baronesa”
A política advém quando aqueles que “não têm” tempo tomam esse tempo necessário para se colocar como habitantes de um espaço comum e para demonstrar que sim, suas bocas emitem uma palavra que enuncia algo do comum e não apenas …

“Mulher do pai” e a vida em espera
O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores… E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de folhas. O vento varria as luzes, O vento varria as músicas, …

É preciso contestar: a arrogância de “Os Incontestáveis”
Até onde podemos ver o cinema a partir de uma discussão de gênero e respeito às mulheres? É possível nos defendermos por detrás da narrativa do gênero cinematográfico, do argumento como elementos que justifiquem a representação do outro de forma …

“Antes do fim”, dancemos ao vento
“A imensa máquina da medicina (hospitais, laboratórios, farmácias, médicos, inseguro saúde, aparelhos de diagnósticos por imagem etc, e mais cosméticos, alimentação…) produz a nossa longevidade. Somos um produto dessa indústria. Produto e fonte de riqueza. A máquina precisa manter nossa …

O cinema que se impõe: “Divinas Divas” e o espetáculo que não vê
“Hoje, o problema do documentário não é colocar em cena aqueles que filmamos, mas deixar aparecer a mise-en-scène deles. A mise-en-scène é um fato compartilhado, uma relação, algo que se faz junto, e não apenas por um, o cineasta, contra …

Anotações sobre o fantástico em “Mal dos Trópicos”
“A realidade (como as grandes cidades) se estendeu e se ramificou nos últimos anos. Isso influiu no Tempo: o passado se afasta com inexorável rapidez.” (Adolfo Bioy Casares) Essas duas frases que iniciam a narrativa do conto O Perjúrio da …

Magia reprimida e a gênese da obscuridão
Depois de oito filmes com grande sucesso nas bilheterias mundiais, parques temáticos nos EUA e uma peça de teatro recém estreada no West End, a franquia de J. K. Rowling inicia uma nova etapa com o lançamento de Animais Fantásticos e …

Diante da morte, a natureza do cinema: “Curumin, o homem que queria voar” e o discurso de si
Em suas reflexões acerca da natureza do cinema, André Bazin afirma “o cinema vem a ser consecução no tempo da objetividade fotográfica. O filme não se contenta mais em conversar para nós o objeto lacrado no instante (…). Pela primeira …

Primeiramente, a nação!
Diante dos protofascismos que a Europa vem ensaiando há algum tempo, Jean-Marie Straub erige dois pequenos monumentos à altura de uma época desgraçada, são eles A propósito de Veneza (2014) e O Aquário e a Nação (2015) – “os Homens …

Hamaca Paraguaya e a dor da espera
Existe algo mais angustiante que a espera? Hamaca Paraguaya é um filme que nos faz sentir na pele essa angústia. A espera, lenta e dolorosa, não é apenas marcante na atuação dos personagens, mas também na estética do filme, com cores …

Enquanto o tempo (e vida) dos índios são ameaçados de acabar
“Conhecer é ‘objetivar’, é poder distinguir no objeto o que lhe é intrínseco, do que pertence ao sujeito cognoscente, e que, como tal, foi indevida e/ou inevitavelmente projetado no objeto. Conhecer, assim, é dessubjetivar, explicitar a parte do sujeito presente …

À resistência pela terra sagrada, a memória contra o martírio provocado pelos brancos
Em um contexto político contemporâneo tenebroso, o 49º Festival de Brasilia do Cinema Brasileiro instaurou, ainda que circunscrita, uma instância acolhedora – e propulsora – de protestos e contestações ao cenário da realidade brasileira atual. Em diversas sessões, o público …

Nossa sorte, a escolha pela ingestão das borboletas
Em uma advertência na abertura de uma das suas obras mais célebres, Cineastas e imagens do povo, na edição antiga da Editora Brasiliense, Jean-Claude Bernardet afirma: “Para que o povo esteja presente nas telas, não basta que ele exista: é …

Luzes da cidade onde (não) se envelhece
“Belo Horizonte A cidade em que se nasce não é sempre a cidade em que se nasce. Às vezes é preciso partir, com os olhos descalços e o coração ignorado, em busca de nascimento – os lugares são tantos e …

Se a perda de memória é diferente do esquecimento: notas sobre “Exilados do Vulcão”
Fala Tudo será difícil de dizer: a palavra real nunca é suave. Tudo será duro: luz impiedosa excessiva vivência consciência demais do ser. Tudo será capaz de ferir. Será agressivamente real. Tão real que nos despedaça. Não há piedade nos …