Editorial Nº 1, 2016 (setembro a dezembro)

Pensemos: “O filme não se confunde com o espetáculo permitido pela projeção das imagens em movimento: ele é, em primeiro lugar, uma conversão na maneira de pensar e produzir as imagens, não mais efetuada a partir da fixidez e da imobilidade, mas a partir do movimento e da pluralidade” (MICHAUD, 2014, p. 63). Em Filme: por uma teoria expandida do cinema, Philippe-Alain Michaud investiga processos históricos responsáveis por alterar o regime da imagem. O autor recorre à história do teatro no Ocidente, debruça-se sobre a instância do cinema na operação das imagens, discute lógicas de montagem, o cinema estrutural, dentre outros aspectos, para conceber um pensamento sobre o cinema transversal. Nesse sentido, importa a Michaud refletir sobre um cinema cuja experiência não pode ser apreendida apenas na sala escura tradicional ou pela linguagem clássica, mas é atravessado (e inventado) por um pluralismo de plataformas de exibição e interferências na imagem.

Munida desse espírito, a Revista Moventes propõe olhar e discutir sobre as imagens moventes em um escopo amplificado. Interessa-nos recuperar percursos da história do cinema, bem como filmes que despertam atenções no contemporâneo; cremos, porém, na importância de se observar as operações audiovisuais em instalações, nas artes cênicas, circulação digital ou mesmo na televisão como suporte. Para tanto, organizamos três seções editoriais: dossiês; o que vemos, o que nos olha; e fragmentos do imaginado. No primeiro caso, reunimos textos de pesquisadores, realizadores e outros profissionais da imagem para tecermos reflexões mais densas sobre um tema pré-determinado. Para essa edição de lançamento, apresentamos o dossiê #1 – entre rastros e atenções: a mulher e a imagem movente, que reúne textos de Camila Suzuki, Érica Sarmet e Marina Tedesco, Flavia Meireles, Jocimar Dias Jr., Juliana Magalhães, Luiza Drable, Mariana Ramos e Tainá Mühringer. Em o que vemos, o que nos olha, buscamos nos deter a circulações da imagem contemporânea, ao passo que em fragmentos do imaginado nosso objetivo é retomar ocasiões e trabalhos marcantes da história do cinema. Na edição de lançamento, contamos com textos de Fabricio Basilio, Fernanda Paz, Isabel Veiga, Luciano Viegas e da equipe editorial, composta por Laís Ferreira e Vitor Medeiros.

No contexto sociopolítico em que vivemos, a Moventes nasce sob o signo da resistência, sob a possibilidade de escrever sobre as imagens de forma colaborativa e ecoando vozes que alçam as relações entre mulheres e audiovisual para a visibilidade, a análise e o respeito. Percorra conosco esse caminho entre imagens e sons!

Boa leitura.

Still do filme Aquarius, dirigido por Kléber Mendonça Filho

Still do filme “Aquarius”, dirigido por Kléber Mendonça Filho

Referência bibliográfica:
MICHAUD, Phillipe-Alain. Filme:por uma teoria expandida do cinema. Tradução Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.