Se eu tivesse um acorde, é pra você que ele iria tocar: os amores em formação de Ana e Bia

“Na vida real, eu vivo a chatice dos dias iguais, mas é só botar uma música que vira outra coisa, parece que sou eu e não sou. Parece que é um clipe, um filme, uma outra vida que vive dentro de mim.” Assim temos acesso ao universo de Ana, jovem de 17 anos interpretada por Manuela Campagna, protagonista de Lua em Sagitário (2016), longa escrito e dirigido por Marcia Paraiso. Ana vive com seus pais em Princesa, uma pequena cidade na fronteira entre Brasil e Argentina, e um dia conhece Murilo (Fagundes Emanuel), rapaz nascido e formado no MST e que mora num assentamento a alguns quilômetros dali. Os dois se apaixonam e, unidos pelo rock, decidem viajar de moto rumo ao litoral para assistir o festival de música Psicodália. Bia, por sua vez, mora em uma grande capital brasileira e é a protagonista de Meus 15 Anos (2017), dirigido por Caroline Fioratti. Interpretada por Larissa Manoela, ela é uma menina tímida e nerd que passa as tardes compondo canções com seu melhor amigo Bruno (Daniel Botelho). Quando Bia ganha uma festa de debutante em um sorteio do shopping, sua rotina vira de ponta-cabeça e ela passa a ser o centro das atenções no colégio. Afinal, vai ser a festa do ano, com direito a show da Anitta, e todos querem ganhar um convite. Seu crush máximo, Thiago (Bruno Peixoto), começa a se aproximar de Bia, fingindo estar interessado nela e isso abala a amizade de longa data que a menina cultiva com Bruno.

Conforme diz Catherine Driscoll no livro Teen Film, “filmes adolescentes são construídos mostrando-nos coisas que já sabemos sobre personagens e situações que nós reconhecemos instantaneamente.” (2011, p. 83). As duas obras aqui analisadas retrabalham os clichês de filmes adolescentes hollywoodianos e atualizam os elementos culturais norte-americanos com referências locais, como o prom, que vira uma festa de 15 anos. Lançados comercialmente nas salas de cinema brasileiras com apenas alguns meses de diferença, esses são os primeiros longas ficcionais dirigidos por estas duas realizadoras mulheres,1 que apostam na potência de tais referências em nosso imaginário e, em especial, na identificação com o público jovem. As cineastas abordam os impasses do amadurecimento e as expectativas do amor romântico em narrativas que propõem um novo diálogo ao valorizar a amizade e o poder feminino.

Ana apresenta sua canção para os pais.

Ana apresenta sua canção para os pais.

Eu moro onde o vento faz a curva
onde judas perdeu as botas
e nunca mais achou.
Eu moro onde ninguém me procura
mas todo mundo encontra
mesmo sem querer.
Aqui nesse lugar
tudo começa
ou será que termina?

A partir dessa música escrita e tocada pela personagem Ana, podemos perceber a importância que o lugar onde ela mora possui em seu cotidiano. O filme estrutura os acontecimentos costurando os espaços, os corpos e as melodias. Ao longo de toda a obra, são muitos os planos dedicados a apresentar o ambiente, as casas, os animais, a natureza, as estradas. Há cenas inteiras em que nada de muito dramático acontece e simplesmente acompanhamos o passeio de bicicleta ou moto da personagem, junto das canções que ela ouve. É um olhar que contempla paisagens e uma escuta que partilha sensibilidades. O colégio e suas dinâmicas sociais são mencionados, mas mal aparecem, pois aqui eles pouco interessam. Ana e Murilo se abraçam sob uma grande árvore, dão beijos apaixonados em uma cachoeira, a luz do sol banha suas peles, os pássaros cantam enquanto eles conversam sobre a vida…

Contudo, os conflitos políticos desse espaço em disputa vão criar empecilhos para o casal improvável de uma menina de classe média e um rapaz sem-terra. O clássico drama de Romeu e Julieta é revisitado pela luta de classes; vindos de famílias rivais, eles tentam viver seu “amor marginal” – como na música de Johnny Hooker que embala um passeio de moto dos mocinhos. Uma sequência emblemática desse conflito se dá perto do final do filme. Depois que eles sofrem uma agressão verbal de uma estudante de direito rica que encontram na estrada, Ana fica indignada e Murilo explica: “a gente vive uma luta de classes, pensar diferente disso é pura ilusão.” Sobre a moça que os agrediu, ele comenta que ela “pode estar fudida, pode perder tudo, mas vai continuar pensando como elite, por gerações e gerações.”

Se Lua em Sagitário faz questão de fornecer informações geográficas sobre o ambiente de sua história nos diálogos e textos escritos na tela, em Meus 15 Anos, ficamos longe de saber onde o filme se passa. Pelo sotaque de alguns personagens, temos a impressão de que possa ser São Paulo, mas nunca vemos imagens descritivas da cidade. O mundo inteiro começa nos portões de entrada do colégio e acaba nos poucos espaços externos frequentados pela mesma mini-sociedade: a casa de Bia, um shopping e o salão de festas. Todos esses espaços são bastante genéricos, e constroem a representação de uma classe média urbana que habita salas e quartos decorados como em programas do GNT e para a qual dinheiro não é um problema. Quando Bia diz para o pai que não quer fazer uma festa de debutante, os argumentos são bastante pessoais e nunca passam pelos altíssimos custos desse tipo de evento. Partindo desse recorte, o filme foca na dinâmica entre os personagens e as intrigas que surgem das relações, envolvendo desejo, ciúmes, inveja e, é claro, o amor.

As canções de amor são um elemento fundamental no universo de ambos os filmes, com referências explícitas a bandas de rock e artistas pop aparecendo na imagem através de cartazes, camisetas, bonequinhos e participações especiais. Figuras emblemáticas da cultura musical brasileira aparecem em momentos cruciais para ajudar as protagonistas e, de alguma forma, antecipar as resoluções narrativas. No caso de Meus 15 Anos, temos Anitta, uma mulher independente, poderosa e urbana, uma grande referência para a geração jovem atual. A popstar entra no clímax da história para legitimar o talento de Bia enquanto cantora e, depois que a menina muda seu visual e é criticada por Kate (Priscila Marinho), uma de suas fadas madrinhas, Anitta intervém dizendo que Bia está “poderosérrima”. No outro filme, Elke Maravilha e Serguei são figuras místicas: eles surgem quando Ana e Murilo estão em apuros, servem-lhes sopa e rapé, consertam a moto que estava com problemas e desaparecem sem deixar vestígios. Segundo a personagem de Elke, “aqui é a terra que nos cria”. Os ideais de liberdade, harmonia, espiritualidade e conexão com a natureza se materializam nesse casal. Eles acolhem os adolescentes carinhosamente em sua casa sem fazer qualquer tipo de pergunta, sem pedir nada em troca, e é nesse chalé situado no meio da floresta que os jovens têm sua primeira relação sexual, à luz de velas com formato de coração.

Semelhante a Ana com seu violão, Bia toca um ukulele e escreve letras para expressar seus sentimentos, como na música-tema Meu Pacto:

Com medo e coragem
Descubro a vantagem
De ser quem eu sei ser
Não importa o que acontecer
(…)
Não é pra mim, fingir sorrir
Sem achar engraçado
Beijar sem ter se apaixonado

Essas questões são típicas de personagens de filmes adolescentes vivendo crises de identidade durante processos de “coming of age”, conforme descreve Timothy Shary: “eles questionam as transformações de suas identidades na passagem da juventude para a vida adulta, enquanto, simultaneamente, procuram moldar e manter essas identidades” (SHARY, 2012, p. 578). Bia é bombardeada por pessoas dizendo como se comportar e se vestir, ela tenta entender quem ela é de verdade e tem constantes discussões com o seu pai sobre a diferença entre o que ela quer e o que ela precisa.

Bruno e Bia se preparam para uma apresentação no colégio

Bruno e Bia se preparam para uma apresentação no colégio.

Enquanto o peso das cobranças e regras sociais afeta fortemente Bia, Ana está mais desgarrada dessas premissas e faz questão de deixar claro seu desprezo por “garotos engomados”, “até o jeito de pentear o cabelo, cara, é com gelzinho.” Ambas se vestem e se comportam de forma casual, mas só Bia sofre as consequências do desleixo. Não é que ela não queira se enturmar, ela acredita não pertencer, aceita essa condição e sofre “a dor do isolamento adolescente” (ABBOTT, 2009).2 Essas inadequações que se manifestam visualmente através das roupas e do comportamento das meninas estão diretamente relacionados ao choque de um tempo pessoal com o tempo do mundo ao redor. Bia sente-se atrasada em relação aos seus colegas e às demandas da vida contemporânea, enquanto Ana é vista como avançada ou moderninha e essas ideias são constantemente reiteradas nos diálogos.

É curioso reparar no papel que a internet exerce em cada filme: extremamente presente em ambas as histórias, as conversas por mensagem de texto invadem a tela, com emojis e notificações. A conexão com o mundo exterior é algo que garante certa autonomia de pensamento a Ana, uma ferramenta positiva que a alimenta. No entanto, sua cidade não tem internet móvel e ela não possui wi-fi em sua casa, então precisa ir até uma lan house com monitores de tubo para navegar ou deslocar-se a um ponto na estrada onde há sinal. Por outro lado, em Meus 15 Anos, há diversos adolescentes hiperconectados,3 o que proporciona desde momentos cômicos até viradas na dramaturgia: é justamente um vídeo gravado com um smartphone e transmitido para a rival de Bia que vai gerar o ápice de constrangimento para a protagonista no final da história.

Murilo e Ana durante a viagem rumo ao litoral

Murilo e Ana durante a viagem rumo ao litoral.

A maior tranquilidade de Ana em relação às cobranças sociais se aplica também no seu comportamento amoroso e sexual. Ela não possui grandes expectativas ou ideais de relacionamento, demonstrando insegurança afetiva em uma única manifestação de ciúmes. As primeiras vezes, sejam elas de beijo ou de sexo, sequer são mencionadas. Sexo aqui é tratado de forma tão corriqueira que Ana chega a ouvir os pais transando certa noite antes de dormir. Se, em vinte minutos de Lua em Sagitário, Ana e Murilo já estão aos beijos, Bia leva uma hora a mais de história para realizar essa ação. Ela é dois anos mais nova que Ana, carrega a vergonha e a expectativa do famoso BV (Boca Virgem), e a única menção a sexo no filme é em uma brincadeira de “verdade ou desafio” em que uma menina pergunta à outra se ela e o namorado já “esquentaram as coisas”, e a resposta é não. Enquanto em Lua o beijo acontece em um único e estático plano iluminado pelos postes da rua, em Meus 15 Anos a câmera se aproxima, gira e destaca o sorriso de Bia emoldurado pelo coreto cheio de luzinhas ao fundo. Sobre os dilemas da virgindade em filmes adolescentes, Driscoll comenta:

Virgindade é um elemento importante e recorrente em filmes adolescentes por diversas razões. É um lugar em que se negociam escolhas individuais e normas socialmente estabelecidas, que cruza experiências historicamente específicas e atreladas a identidades de gênero com oposições políticas entre tradições e mudanças. É um marcador psicológico que permanece interno à adolescência, referindo-se às suas origens em ideias sobre a puberdade e ao seu destino em imagens da vida adulta. (…) Ritos de passagem adolescentes dependem de imagens claramente diferenciadas de “tornar-se um homem” e “tornar-se uma mulher”. Pelo fato de puberdade, gênero e sexualidade serem questões cruciais à adolescência, não existe um filme adolescente que não inclua o tema do sexo, mesmo que não haja sexo na tela. (…) E não há filme adolescente que não discuta identidades de gênero. (DRISCOLL, ibidem, p. 71)
Bia e Thiago invadem o banheiro da escola

Bia e Thiago invadem o banheiro da escola.

Tanto a jornada de Bia quanto a de Ana sofrem reviravoltas e o grande evento pelo qual elas aguardam não sai como planejado, um pouco devido a acasos e situações que fogem do controle, um pouco por falhas delas próprias. Como Bia conclui, “amadurecer é fazer escolhas”, e quando ela se deixa levar pela paixão por Thiago e escolhe faltar a gravação agendada com Bruno – evento muito importante para este, que é seu melhor amigo -, a protagonista desencadeia uma série de consequências negativas. Ao final da valsa com o príncipe Thiago, sua ex-amiga e atual rival projeta um vídeo no qual o rapaz conversa com os amigos sobre como Bia é esquisita mas que ele vai se aproximar dela para conseguir convites para a grande festa. Sem saber como lidar com a exposição pública de sua incompatibilidade social, Bia sai do salão, arrasada, e corre para o camarim. Thiago a procura, pede desculpas:

Thiago: Eu não te conhecia direito.
Bia: Você não me conhece direito. Eu sou esquisitona mesmo.
Thiago: Não deixa isso estragar o que rolou entre a gente.
Bia: Não rolou nada entre a gente. Foi só um beijo.

O primeiro beijo perfeito, longamente aguardado e demandado pela conjuntura social, o sonho de princesa da Disney milimetricamente realizado, o romantismo adolescente máximo… tudo perde o sentido para Bia. Assim, o filme conota uma ligeira inversão nos papéis quando o príncipe Thiago demonstra preocupação e afeto por Bia, como se talvez ele tivesse se apaixonado de verdade pela menina, que agora o despreza por causa da traição de confiança. Quiçá Thiago também tenha amadurecido junto com Bia, mas não temos acesso aos seus pensamentos e à sua subjetividade. Assim que ele é expulso do camarim, ainda entre lágrimas, Bia encontra o presente de Bruno, um ukulele transparente com um cartão que diz: “O ukulele pode ser invisível, mas você não é.” E esse é o pontapé final para que Bia, há pouco socialmente excluída e insegura, consiga assimilar todas as lições de suas vivências e entender a sua verdadeira identidade. O vexame vivido em sua própria festa, que poderia ser violento como um balde de tinta derramado sobre o corpo, afeta Bia tanto quanto seu primeiro beijo: quase nada. O que realmente resolve seu conflito e catalisa sua transformação é o apoio incondicional do amigo. Ela imediatamente volta para o salão, performa um grande número musical aplaudido por todos e ainda conta com a participação de Bruno no palco, que perdoa os vacilos da amiga com surpreendente rapidez.

Diferente de Bia, a prova de fogo de Ana envolve o enfrentamento dos próprios demônios ao se perceber recaindo em um tipo de comportamento que ela condena. Ana reclama de pessoas preconceituosas, mas, assim que lê no jornal uma notícia negativa sobre LP (interpretado por Jean Pierre Noher), a menina duvida da integridade de seu antigo mentor. Quando se descobre equivocada, confessa para o espectador em voz over: “E foi como uma gota, um clique. Tudo aquilo que eu acreditava, que eu desejava muito, tudo correu pra trás.” Ana assimila o seu erro e, já no final da viagem, volta para Princesa sem cumprir o objetivo que era de ir ao show. Depois de passar por todos os percalços, ela constata que o mais importante foi a coragem para sair de sua cidade, e não o destino de sua jornada. Ana entende que o mundo é um tanto mais complexo do que ela achava antes, e que ela também o é. Assim, ela conquista mais coragem para enfrentá-lo, o que se materializa em um corte de cabelo:

Ana: Na verdade, eu sempre quis ter cabelo curto. Mas sei lá, acho que eu tinha medo.
Murilo: E agora, não tem mais?
Ana: Não, passou.

Bia também muda sua visão de mundo e aparência. Ainda que tenha rejeitado os estereótipos da feminilidade como maquiagem e salto alto, ela larga os óculos, solta o cabelo, perde a timidez de cantar em público e conclui que “eu não preciso de um príncipe.” Na voz over da narração, Bia nos conta didaticamente que “crescer tem a ver com as experiências que você viveu e como as encarou.” Ciente das nossas expectativas enquanto público do gênero fílmico em questão, diz “Eu sei que vocês tão curiosos pra saber se vai rolar alguma coisa entre eu e o Bruno. A verdade é que eu ainda não sei. E sabe de uma coisa? Eu não preciso decidir isso agora. Se tem uma coisa que eu aprendi é que eu posso fazer as coisas no meu tempo, do meu jeito.” Assim, mais do que subverter a relação que se espera entre os dois personagens, o filme a mantém fluida e aberta, convidando o público também a interpretá-la do seu jeito, no seu tempo.

A defesa de relações baseadas na parceria, solidariedade e respeito perpassa ambas as obras, independente dos rótulos de namoro ou amizade. A afirmação do poder das mulheres também é uma constante nos filmes e, mesmo que Ana termine a história formando um casal heterossexual monogâmico com Murilo, ela enaltece as “mulheres empoderadas” (palavras da personagem) que conheceu nos assentamentos. Vale observar também um comentário musical feito por Meus 15 Anos, quando Joseph (Victor Meyniel), a fada madrinha bicha, ensina Bia a andar de salto alto e é acompanhado de Karol Conka cantando É o Poder na trilha extra-diegética. Diferente de um senso comum em que o humor consiste em rir de homens incapazes de se equilibrar no salto por uma suposta inadequação essencialista, aqui o rapaz é poderosa o suficiente para ensinar a gata borralheira a “ser feminina” e é a garota quem tropeça comicamente. A graça da cena está nessa teórica inversão já que, no fim, não há problema algum que Joseph se identifique com o glamour do salto e Bia prefira o all star.

Ainda que ambas as narrativas reiterem diversos estereótipos e clichês, é nesses sutis deslocamentos que delicadamente operam os filmes aqui analisados. Ao entender a juventude como uma promessa de futuro, eles constroem universos utópicos para a classe média brasileira, cada um à sua maneira. Em Meus 15 Anos, Caroline Fioratti se apropria do texto estelar de Larissa Manoela4 inserindo-a em uma história que rompe a principal expectativa das comédias românticas clássicas: “com quem a mocinha vai ficar no final?” Contudo, as tensões de classe praticamente inexistem no universo de Bia, enquanto Lua em Sagitário está interessado especialmente na questão agrária, no latifúndio, no preconceito. Ao longo de toda a narrativa, o amor de Ana e Murilo borra limites e fronteiras. Eles brincam de se beijar no monumento que separa Brasil e Argentina, Ana suja as mãos de barro fazendo cerâmica no assentamento, Murilo fala de economia com o pai da namorada na mesa de jantar (sem que este saiba que o rapaz é um sem-terra) e todo esse movimento culmina na máxima conciliação naquele microcosmo, que é a aproximação da mãe de Murilo com os pais de Ana. As personagens adolescentes de Fioratti e Paraiso percorrem trajetórias de amadurecimento que reverberam naqueles que estão ao seu redor e revelam possibilidades de um Brasil diferente. Lua em Sagitário termina com uma citação de Mário Lago: “É um ato de coragem sonhar que vai dar certo.” Se o país vive trevas que parecem não ter solução, as cineastas propõem que vejamos o mundo pelos olhos dessas meninas, com esperança, melodia e sensibilidade. Botar uma música e tentar encontrar as outras vidas que vivem dentro de nós.

Ana e Murilo no assentamento Conquista na Fronteira (SC)

Ana e Murilo no assentamento Conquista na Fronteira (SC)

Foto em destaque no topo: Thiago e Bia em Meus 15 Anos.
Notas:
1 Anteriormente, Marcia Paraiso havia realizado documentários.
2 De qualquer forma, é interessante observar que nenhuma das duas meninas passa por grandes traumas ou bullyings. Bia, cuja vivência se aproxima um pouco mais dessa violência social, é no máximo julgada (ao longe, sem que ela sequer ouça) por derrubar o molho do cachorro-quente em sua roupa. Até mesmo na cena em que quase é revelado publicamente que ela nunca beijou ninguém, o que poderia ser o fim do mundo na vida de uma adolescente, sua amiga a salva com uma desculpa esfarrapada e ninguém parece desconfiar ou insistir em verificar a verdade. O estado psicológico de fragilidade social vivido por Bia é amenizado pelo ambiente de seu colégio, bastante amigável se comparado com a vida real, ou até mesmo a outras ficções do gênero.
3 Além da personagem vlogueira, alguns youtubers famosos entre os adolescentes foram escalados para o elenco.
4 Larissa Manoela é um ícone da televisão infantil com milhões de fãs, faz shows em grandes estádios e inclusive já performou um pedido de namoro com troca de alianças na Disney em suas redes sociais. 
Referências:
DRISCOLL, Catherine. Teen Film: A Critical Introduction. Oxford, Nova York: Editora Berg, 2011.
SHARY, Timothy. Teen Films: The Cinematic Image of Youth. In: Film Genre Reader IV, org. Barry Keith Grant. University of Texas Press, 2012, pp. 576-601.
ABBOTT, Stacey. Prom-Coms: Reliving the Dreams and Nightmares of High-School Romance. In: Falling in love again: Romantic Comedy in Contemporary Cinema, org: Stacey Abbott e Deborah Jermyn. Londres: I.B.Tauris & Co Ltd, 2009, pp. 52-64.
Por Alice Name-Bomtempo e Vitor Medeiros