Editorial Nº 3, 2018

Poucos temas já foram tão escritos, reescritos e reinventados como o do amor. E das formas mais diversas: das músicas mais simples, daquelas feita às pressas, das cenas de corte rápido, dos longa-metragens em que, a partir da relação entre duas pessoas, torna-se possível entender o contexto e o cotidiano sociopolítico de toda uma sociedade. “O amor é chama tão rara, que talvez nunca se acenda”, diz uma cantiga de roda popular. Quando se ilumina, porém, quiçá possa nascer e destruir o mundo: embriagado, inebriado, cheio de tesão. Quem ama está suspenso, guarda em si a potencialidade da fratura, do choque da criação de um mundo outro.

Considerando isso, concluímos essa terceira edição da Revista Moventes com o dossiê quando o amor transborda. Os textos que o compõem abordam diversas manifestações desse sentimento, atravessando obras de estéticas e contextos de produção distintos. Carolina Amaral evidencia como a estrutura da ficção romântica, especialmente no cinema, está ligada à maneira como organizamos uma narração no ensaio Histórias que escrevem pessoas: narrar e amar. Em Pornochanchada, ambivalência e excesso: notas sobre “Giselle”, Luciano Carneiro observa como as pornochanchadas dialogavam com os costumes de moral e sexualidade vigentes a partir do estudo de uma obra e sua repercussão na imprensa da época. Vitor Medeiros, em Virtude da moral em abismo, analisa como Hong Sang-soo e Kim Min-hee mesclam realidade e ficção em um trabalho colaborativo mediado pelo cinema. Complexificando aquilo que poderia ser entendido de humano nas relações amorosas, Andróides e monstros: mulheres na ficção científica a partir de “Blade Runner”, de Mariana Ramos, invoca os ciborgues e levanta questões sobre o afeto existente nessas máquinas antropormóficas. Alice Name-Bomtempo, em Lembranças de como a vida já foi antes dela ser como é: as muitas formas de amar em “How I Met Your Mother”, debruça-se na maneira pela qual são estruturadas as relações no seriado estadunidense, pensando como esses encontros dizem da vida afetiva do mundo contemporâneo. Bomtempo e Medeiros assinam também o texto Se eu tivesse um acorde, é pra você que ele iria tocar: os amores em formação de Ana e Bia, e discutem, a partir de Lua em Sagitário e Meus 15 Anos, as dúvidas e os caminhos percorridos por adolescentes, tanto em relação ao amor quanto na direção que tomam para a vida adulta. No artigo O que pode um Bartleby queer? Notas acerca da resistência passiva queer em “Corpo Elétrico”, Jocimar Dias Jr. retoma o conto melvilliano para demonstrar como o longa dirigido por Marcelo Caetano coloca nas mãos de figuras LGBT a vanguarda de um potencial disruptivo dentro de uma realidade heteronormativa, gendrada e capitalista. Enquanto o texto de Dias Jr. aponta para uma utopia queer, A dificuldade do amor face ao progresso: História de Taipei, de Laís Ferreira, observa como o amor nem sempre com êxito em enfrentar a lógica do trabalho e de produção que existem em determinada realidade.

Além do dossiê, nesta terceira edição contamos com os textos de cobertura do festival VI Olhar de Cinema de Curitiba, em que, além dos textos críticos, publicamos uma entrevista com a diretora tailandesa Anocha Suwichakornpongd; a cobertura da 11ª CineBH, 12ª CineOP e textos avulsos e diversos na seção O que vemos, o que nos olha. Convidamos os nossos leitores a percorrerem as seções da moventes e seguirem, conosco, partilhando, vivendo e – especialmente a partir daqui – sentindo o cinema.

Equipe editorial – Camila Suzuki, Laís Ferreira, Vitor Medeiros

(Referente aos artigos publicados entre junho de 2017 e janeiro de 2018)