Editorial Nº 6, 2021

Pensemos: “O filme não se confunde com o espetáculo permitido pela projeção das imagens em movimento: ele é, em primeiro lugar, uma conversão na maneira de pensar e produzir as imagens, não mais efetuada a partir da fixidez e da imobilidade, mas a partir do movimento e da pluralidade” (Philippe-Alain Michaud).

Em setembro de 2016, a Revista Moventes foi ao ar trazendo a reflexão acima, propondo olhar para o cinema de maneira amplificada, atravessado e inventado pela pluralidade. Em 2021, munida do mesmo espírito, floresce a Mostra de Cinema Moventes, um espaço virtual para juntar filmes, realizadores, pesquisadores, curadores e o “público”- esse sujeito indeterminado que somos nós e também uma infinidade de outros.

O primeiro ciclo tem como recorte “o corpo no cinema brasileiro contemporâneo”, com 6 sessões desdobradas em subtemas como ancestralidade, sobrevivências, maternidade, violências e a relação com o espaço urbano. Elas serão disponibilizadas semanalmente na plataforma do Centro Cultural Vale Maranhão, instituição que acolhe e viabiliza o projeto por meio do edital Ocupa CCVM. Os filmes serão acompanhados de debates ao vivo com convidados e, ao final, será publicado um dossiê, escrito a partir dessa experiência. Todas as atividades serão públicas e gratuitas; os links de acesso serão divulgados nas redes da Moventes e do CCVM.

Assim, é com muita alegria que convidamos a todes para conviver e dialogar conosco nessa nova jornada que se inicia com as imagens moventes.

 

Programação completa:

12/2, às 19h – Estreia da Sessão 1: NÓS DA TERRA
Ka’a zar Ukyze Wà – Os Donos da Floresta em Perigo, de Flay Guajajara, Erisvan Guajajara e Edivan Guajajara (MA), 2019.
O verbo se fez carne, de Ziel Karapotó (PE), 2018.
Yãmĩyhex: as mulheres-espírito, de Isael Maxakali, Sueli Maxakali (MG), 2020.
Duração da sessão: 98 min.

17/2, às 19h – Debate sobre a Sessão 1
Debatedores: Graci Guarani/Cuña Poty Rory (produtora cultural, cineasta e comunicadora), Alberto Álvares (cineasta, professor e tradutor Guarani), e os representantes dos filmes desta sessão, Erisvan Guajajara, Ziel Karapotó e Roberto Romero.
Mediação: Isabel Veiga e Vitã (curadores)

19/2, às 19h – Estreia da Sessão 2: DANÇAR A CIDADE
Sobre aquilo que nos diz respeito, de Cris Miranda (RJ), 2016.
Elekô, do coletivo Mulheres de Pedra (RJ), 2015.
Esse amor que nos consome, de Allan Ribeiro (RJ), 2012.
Duração da sessão: 95 min.

24/2, às 19h – Debate sobre a Sessão 2
Debatedores: Flavia Meireles (artista, pesquisadora e professora de dança do CEFET RJ), Ewerton Belico (diretor, roteirista, curador e professor) e os diretores dos filmes desta sessão, Allan Ribeiro e Cris Miranda.
Mediação: Vitã (curadora)

26/2, às 19h – Estreia da Sessão 3: COLETIVOS EM LUTA
Nove águas, de Gabriel Martins e Quilombo dos Marques (MG), 2019.
Entre, de Vladimir Seixas (RJ), 2009.
Na missão, com Kadu, de Aiano Benfica, Pedro Maia de Brito, Kadu Freitas (MG), 2016.
Duração da sessão: 67 min.

3/3, às 19h – Debate sobre a Sessão 3
Debatedores: Laís Ferreira (crítica e escritora), Érico Araújo (pesquisador, crítico e professor) e diretores dos filmes desta sessão, Gabriel Martins, Cardes Amâncio, Maria Eunice, Edson Quilombola, Vladimir Seixas e Aiano Bemfica.
Mediação: Vitã (curadora)

5/3, às 19h – Estreia da Sessão 4: FRATURADOS PELA SOCIEDADE – MEMÓRIAS E FABULAÇÕES
Chico, dos irmãos Carvalho (RJ), 2016.
Branco sai, Preto fica, de Adirley Queirós (DF), 2014.
Duração da sessão: 117 min.

10/3, às 19h – Debate sobre a Sessão 4
Debatedores: Luiza Drable (produtora audiovisual, pesquisadora e diretora de arte), Clementino Júnior (cineasta, educador audiovisual e cineclubista) e diretores dos filmes desta sessão, Eduardo Carvalho, Marcos Carvalho e Adirley Queirós.
Mediação: Flavia Candida (curadora).

12/3 às 19h – Estreia da Sessão 5: O ESPANTO DELAS
Vinil Verde, de Kleber Mendonça Filho (PE), 2004.
Estátua!, de Gabriela Amaral Almeida (SP), 2014.
Até o céu leva mais ou menos 15 minutos, de Camila Battistetti (CE), 2013.
Edna, de Edna Toledo (RJ), 2018.
Vailamideus, de Ticiana Augusto Lima (CE), 2014.
A Mulher que sou, Nathália Tereza (PR), 2019.
Duração da sessão: 92 min.

17/3, às 19h – Debate sobre a Sessão 5
Debatedores: Alice Name-Bomtempo (roteirista, cineasta e professora), Mariana Ramos (roteirista, pesquisadora e produtora) e representantes dos filmes desta sessão, Maeve Jinkings, Nathalia Tereza, Cássia Damasceno e Ticiana Augusto Lima.
Mediação: Gabriela Giffoni (curadora)

19/3 – Estreia da Sessão 6: CÂMERA-CORPO-TESTEMUNHO
Fantasmas, de André Novais Oliveira (MG), 2010.
Ilha, de Ary Rosa e Glenda Nicácio (BA), 2018.
Duração total da sessão: 107 min.

24/3, às 19h – Debate sobre a Sessão 6
Debatedores: Mariana Baltar (professora de Cinema e Audiovisual da UFF), Michel Carvalho (roteirista e pesquisador) e representantes dos filmes.
Mediação: Isabel Veiga (curador)

 

Sinopses dos filmes (em ordem alfabética)

Até o céu leva mais ou menos 15 minutos, de Camila Battistetti (CE). 2013. 12min.
Sinopse: Duas mães, três crianças e um carro. O curta acompanha os quinze minutos de percurso entre uma festa infantil e a chegada em casa, partindo de um aparentemente incontrolável caos até o extremo relaxamento.

A Mulher que sou, Nathália Tereza (PR) .  2019. 15min.
Sinopse: Marta quer se dar a chance de viver uma nova vida, em uma nova cidade.

Branco sai, preto fica, de Adirley Queirós (DF) . 2014 . 95min.
Sinopse: Um Baile Black. Tiros e opressão. Uma geração amputada.

Chico, dos irmãos Carvalho (RJ) . 2018 . 22min.
Sinopse: 2029. Treze anos depois de um golpe de Estado no Brasil, crianças pobres, negras e faveladas são marcadas em seu nascimento com uma tornozeleira e têm suas vidas rastreadas por pressupor-se que elas irão, mais cedo ou mais tarde, entrar para o crime. Chico é mais uma dessas crianças. No aniversário dele, é aprovada a lei de ressocialização preventiva, que autoriza a prisão desses menores. O clima de festa dará espaço a uma separação dolorosa entre Chico e sua mãe, Nazaré.

Edna, de Edna Toledo (RJ).  2018. 14min.
Sinopse: A partir de fragmentos de si espalhados pelo quarto, uma mulher tenta falar quem é.

Elekô, do coletivo Mulheres de Pedra (RJ) . 2015 . 7min.
Sinopse: Um fio de poesia vermelha conduzindo a experiência audiovisual de fazer-se e afirmar-se na loucura das condições de ser negra e mulher. Olhando a história a partir do porto, reconhecer e afirmar as potências e a beleza. Parir do próprio sofrimento um horizonte de liberdade, apoio e colaboração. Encontrar na presença de outras mulheres a força do feminino e o sagrado sentido de ser, até poder celebrar a vida, em fêmea comunhão e sociedade.

Entre, de Vladimir Seixas (RJ) . 2009 . 14min
Sinopse: Os momentos da ocupação de um prédio no centro da cidade do Rio de Janeiro.

Esse amor que nos consome, de Allan Ribeiro (RJ) . 2014 . 80min.
Sinopse: Gatto e Barbot são companheiros há mais de 40 anos, e passam a viver e a ensaiar com sua companhia de dança em um casarão abandonado no Centro do Rio de Janeiro. Sua luta diária se mistura à criação artística e à crença em seus orixás.

Estátua!, de Gabriela Amaral Almeida (SP) . 2014. 24min.
Sinopse: A babá Isabel está no sexto mês de gestação e mal pode esperar para ser mãe. Até conhecer Joana.

Fantasmas, de André Novais Oliveira (MG) . 2010 . 10min.
Sinopse: O fantasma da ex.

Ilha, de Ary Rosa e Glenda Nicácio (BA) . 2018 . 94min.
Sinopse: ​Emerson, jovem da periferia, quer fazer um filme sobre a sua história na Ilha, onde quem nasce nunca consegue sair. Para isso, ele sequestra Henrique, um premiado cineasta. Juntos, eles reencenam a vida, mas com alguma licença poética.

Ka’a zar Ukyze Wà – Os Donos da Floresta em Perigo, de  Flay Guajajara, Erisvan Guajajara e Edivan Guajajara (MA) . 2019 . 14 min.
Sinopse: Dirigido por Flay Guajajara, Erisvan Guajajara e Edivan Guajajara, que compõem o coletivo Mídia Índia, o filme apresenta a dramática situação dos índios isolados Awá Guajá na Terra Indígena Araribóia (MA), um território que é alvo de constantes invasões de caçadores e madeireiros.

Na missão com Kadu, de Aiano Benfica, Pedro Maia de Brito, Kadu Freitas (MG) . 2016 . 28min.
Sinopse: O encontro, a conversa, a lembrança, a tragédia. No maior conflito fundiário urbano da América Latina, companheiras e companheiros da região ocupada da Izidora marcham pela moradia digna. Cineasta e liderança, Kadu, leva sua câmera para a marcha e nela traz de volta alguns registros do dia 19/5. À beira do fogo ele relembra o dia, a luta e o sonho.

Nove águas, de Gabriel Martins e Quilombo dos Marques (MG) . 2019 . 25min
Sinopse: Em 1930, Marcos e seu grupo de descendentes de escravizados saíram do Vale do Jequitinhonha rumo ao Vale do Mucuri. Fugindo da seca, da fome e da violência no campo, os quilombolas buscavam um novo território para construir sua comunidade. Dos tempos do desbravamento aos atuais, a história de luta por água e terra protagonizada pelos moradores do Quilombo Marques, no Vale do Mucuri, em Minas Gerais.

O verbo se fez carne, de Ziel Karapotó (PE) . 2018 . 7min.
Sinopse: A invasão dos europeus ao nosso continente nos deixou cicatrizes. Ziel Karapotó utiliza a si para denunciar o genocídio e etnocídio aos povos indígenas de uma realidade colonial.

Sobre aquilo que nos diz respeito, de Cris Miranda (RJ) . 2016 .  9min.
Sinopse: A palha e a pedra. Um Jardim de rostos cobertos. Antigas histórias de espíritos e estátuas.

Vailamideus, de Ticiana Augusto (CE) . 2014. 7min.
Sinopse: Ao redor da matriarca, uma festa de família.

Vinil Verde, de Kleber Mendonça Filho (PE) . 2004. 17min.
Sinopse: Uma menina é presenteada com vinis coloridos. Deslumbrada com as cores, encanta-se quando escuta as músicas na vitrola. Porém, ela é proibida de ouvir o vinil verde, o que mais desperta a sua curiosidade.

YÃMĨYHEX: As Mulheres Espírito (MG) . 2019 . 76min
Sinopse: Ancestrais do povo Maxakali, etnia da dupla de cineastas Sueli e Isael, as Yãmĩyhex (Mulheres-Espírito) visitam Aldeia Verde (Apne Yxux), em Minas Gerais, com periodicidade. Após meses de estadia, a hora de partir é acompanhada por um longo ritual, filmado, aqui, por uma câmera que também brinca o festejo de despedida, preservando o tempo e o espaço daquilo que não é visível e nem dizível. Vencedor da Mostra Olhos Livres em Tiradentes, o filme é o resultado mais recente da trajetória do par de artistas e documentaristas em seu projeto de continuidade e compartilhamento da cultura indígena através do cinema.

 

Ficha técnica da 1ª Mostra de Cinema Moventes

Equipe de curadoria: Flavia Candida, Gabriela Giffoni, Isabel Veiga, Vitã
Produção: Ana Sanz
Produção executiva: Ritornelo Criações
Agradecimento especial à Júlia Couto

Equipe editorial da Revista Moventes: Gabriela Giffoni, Jocimar Dias Jr., Vitã

Realização: Centro Cultural Vale Maranhão

Texto publicado em 11 de fevereiro de 2021.