O cinema talvez seja um espelho passível de movimento, em que os encontros – com os outros, consigo – ainda se façam possíveis. Nesse caso, o tempo é a variância principal. No breve curta Espelho negro (Black Mirror, 2008), de Anocha Suwichakornpong, …
Categoria: Coberturas de festivais
Uma imagem que se espelha: sobre “Anoitecer”, “Almoço” e “Como. Amor. Verdadeiro”
No início de Anoitecer (Nightfall, 2016), de Anocha Suwichakornpong, vemos uma mulher que encosta a superfície de sua mãos sobre um espelho. Passamos a ver a imagem de um corpo e a imagem de um reflexo: estão ambas enquadradas dentro …
A poeira das estrelas: o cotidiano em “Estrangeiro” e “História mundana”
No início de Estrangeiro (Pohn talay, 2012), de Anocha Suwichakornpong, vemos uma mulher imigrante trabalhando em uma fábrica com pescados. Enquanto trabalha, o grupo de operários conversa sobre uma série assistida na noite anterior. Uma das imigrantes, porém, parece irrequieta. …
“Lá” é um lugar imaginado
Possivelmente, a imagem de um lugar nunca será esse lugar. Nem a imagem do amor ou da ausência poderão ser esses sentimentos: os índices que empregamos apontam, guardam uma parte do que isso foi. No entanto, não são a própria …
Quantos afluentes desaguam num rio?
O que pode um rio no universo dos homens? O que significa para um rio nascer, ir em direção à foz, receber os afluentes? O percurso de um rio, a bacia hidrográfica a qual pertence, é um dos elementos responsáveis …
Nada mais extraordinário que o cotidiano
Em uma das primeiras sequências de Nyo vweta nafta (2017), de Ico Costa, vemos um casal abraçado, andando de moto por Moçambique. Enquanto transitam, o homem e a mulher conversam sobre o futuro, sobre o que é possível esperar dos dias …
Como (e onde) crescem os meninos-homens em “A família”
Em uma sequência de A família (La familia,2017)1, de Gustavo Rondón, vemos pai e filho no interior de um bar. Depois de um dia de trabalho e de uma tentativa frustrada de roubo de uma garrafa de bebida ao final …
“Corpo delito” e a liberdade apesar das grades
“Para saltar de páraquedas, teria que ser de um prédio mais alto”. A frase que encerra Corpo delito (2017), em um diálogo entre os dois personagens principais, parece metaforizar os sentidos de liberdade e reinserção social abordados pelo filme. E, …
Amar não é um gesto leviano ou carta-resposta a Marcelo Ikeda
Para mim a perda política é antes de tudo a perda de si, a perda de sua cólera assim como a de sua doçura, a perda de seu ódio, de sua faculdade de odiar assim como a de sua faculdade …
“Subybaya” e a autossuficiência no cinema
“Somos hoje uma indústria sem chaminés, embora se fume muitos charutos”. (Jairo Ferreira). Construir um filme que se pretende contestador e autossuficiente é assumir para si o conservadorismo do mundo. No regime de imagens e política contemporânea, a lógica é …
Caminhar, persistir, acreditar: “A canção do asfalto”, “Restos”, “Estado itinerante” e a opressão do urbano
Estar no espaço urbano é estar confinado – e estar em trânsito. Em A canção do asfalto (2016), de Pedro Giongo, Restos (2016), de Renato Gaiarsa e Estado itinerante (2016), de Ana Carolina Soares, o mundo das cidades oprime, ao …
“Um filme de cinema” e a realidade fabulada
O cinema surge como escrita da luz. Nasce pendular entre dois movimentos: o avançar das descobertas óticas e a vontade de fazer ver a partir de invenções. Do gesto dos irmãos Lumière em registrar planos fixos e, por meio disso, …
A delicadeza da terra, a descoberta do mar: “Homem-peixe” e a invenção do mundo
“E o cinema, vejo muito bem porque o adotei: para que ele me adotasse de volta. Para que ele me ensinasse a perceber, incansavelmente pelo olhar, a que distância de mim começa o outro”. Serge Daney “Perto de muita água, …
O risco do voyeur em “Baronesa”
A política advém quando aqueles que “não têm” tempo tomam esse tempo necessário para se colocar como habitantes de um espaço comum e para demonstrar que sim, suas bocas emitem uma palavra que enuncia algo do comum e não apenas …
“Mulher do pai” e a vida em espera
O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores… E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de folhas. O vento varria as luzes, O vento varria as músicas, …
É preciso contestar: a arrogância de “Os Incontestáveis”
Até onde podemos ver o cinema a partir de uma discussão de gênero e respeito às mulheres? É possível nos defendermos por detrás da narrativa do gênero cinematográfico, do argumento como elementos que justifiquem a representação do outro de forma …
“Antes do fim”, dancemos ao vento
“A imensa máquina da medicina (hospitais, laboratórios, farmácias, médicos, inseguro saúde, aparelhos de diagnósticos por imagem etc, e mais cosméticos, alimentação…) produz a nossa longevidade. Somos um produto dessa indústria. Produto e fonte de riqueza. A máquina precisa manter nossa …
O cinema que se impõe: “Divinas Divas” e o espetáculo que não vê
“Hoje, o problema do documentário não é colocar em cena aqueles que filmamos, mas deixar aparecer a mise-en-scène deles. A mise-en-scène é um fato compartilhado, uma relação, algo que se faz junto, e não apenas por um, o cineasta, contra …
Enquanto o tempo (e vida) dos índios são ameaçados de acabar
“Conhecer é ‘objetivar’, é poder distinguir no objeto o que lhe é intrínseco, do que pertence ao sujeito cognoscente, e que, como tal, foi indevida e/ou inevitavelmente projetado no objeto. Conhecer, assim, é dessubjetivar, explicitar a parte do sujeito presente …
À resistência pela terra sagrada, a memória contra o martírio provocado pelos brancos
Em um contexto político contemporâneo tenebroso, o 49º Festival de Brasilia do Cinema Brasileiro instaurou, ainda que circunscrita, uma instância acolhedora – e propulsora – de protestos e contestações ao cenário da realidade brasileira atual. Em diversas sessões, o público …